1 de fevereiro de 2014

China flexibiliza posição contra cristãos

Governo sente avanço do cristianismo; cristãos podem ser 30% em 2030

(Jornal Mensageiro da Paz, fevereiro de 2014)

O governo comunista da China ainda mantém o ateísmo como ideologia política, mas abandonou oficialmente a ideia de que a religião seja "o ópio do povo", foi o que deixou claro o novo diretor da Administração Estatal para os Assuntos Religiosos, Wang Zuoan, no final de 2013. Em uma entrevista ao jornal Diário do Povo, órgão oficial do Partido Comunista chinês, Zuoan afirmou que "o Partido Comunista Chinês começou a encarar a religião com uma perspectiva mais positiva. A antiga União Soviética e as nações do (extinto) Pacto de Varsóvia não conseguiram lidar bem com as questões religiosas. Isso serviu como grande lição para a China", disse Zuoan.

Zuoan disse ainda que "a influência da cultura ocidental na China, incluindo o cristianismo, aumentou muito. [...] É normal que a religião se consolide durante o processo de modernização de um país. [...] A sociedade chinesa está se tornando cada mais mais tolerante. As pessoas não são mais assediadas por seguirem uma religião. [...] Basicamente, a religião defende a paz, a reconciliação e a harmonia [...] e pode desempenhar um importante papel na sociedade". Porém, Zuoan afirma que cristãos de igrejas clandestinas só terão liberdade quando se adequarem ao regime: "O governo chinês atribui à religião um papel mais positivo, encorajando que ela se adapte à sociedade socialista. [...] Devido a vários fatores complexos, a religião pode se tornar uma isca para a agitação e antagonismo. É preciso ser muito claro sobre este ponto".

Ainda há notícias de perseguição a cristãos na China. A última fonte é de novembro de 2013, quando cerca de 12 policiais invadiram a Igreja Cristã de Nanle, na província de Henan. O pastor Zhang Shaojie, líder da igreja, e mais 23 fieis acabaram presos e, até o fechamento desta edição, ainda estavam detidos e seu paradeiro era ignorado. Eles foram conduzidos pelas autroridades a um local desconhecido. Portanto, o comunicado do final do ano não significa que a situação já mudou, mas que o governo comunista chinês já sente que sua luta contra o avanço do cristianismo no país é cada vez mais inglória e destinada à derrota, e que a melhor estratégia agora é tentar cooptar a população cristã chinesa aos ideais do partido.

Também no final do ano, o Comitê Central do Partido Comunista prometeu abolir o programa de "reeducação pelo trabalho", que já existe há 50 anos. O programa permite que um cidadão seja condenado pela polícia chinesa a quatro anos de prisão sem ser julgado.

Poderá a China comunista se tornar cristã? Essa é a expectativa de um dos maiores intelectuais daquele país, o economista Zhao Xiao, 47 anos, professor do Departamento de Negócios Internacionais, Economia e Administração da Universidade de Pequim e ex-chefe do Centro de Pesquisas Econômicas da China e do Departamento de Estratégia de Ativos Estatais da Comissão de Supervisão e Administração do Conselho de Estado da China. Desde que se converteu a Cristo, Xiao tem pregado às elites chinesas e sua atitude tem sido surpreendentemente tolerada pelo Partido Comunista chinês, ao qual o economista deixou de ser filiado após sua conversão. Muito dessa tolerância se deve ao sucesso de Xiao como economista. Ele é o comentarista de macro economia mais requisitado da tevê estatal chinesa.

Fora da China, Xiao, que é também fundador e presidente do Instituto de Liderança Cypress, em Pequim, tem ministrado em igrejas pelo mundo, principalmente nos Estados Unidos. Em 2012, ele foi um dos palestrantes de um seminário realizado pela Associação dos Homens de Negócio do Evangelho Pleno (Adhonep) no sul da Califórnia (EUA), ocasião em que afirmou que embora seja comumente divulgado que a Igreja do Evangelho Pleno, liderada pelo pastor Paul Yonggi Cho na Coréia do Sul, é a mais numerosa da Ásia, a verdade é que a maior igreja da Ásia e do mundo está na China.

A igreja do pastor Cho tem mais de 800 mil membros, mas Zhao Xiao afirma, sem revelar o nome da igreja, que há uma igreja evangélica na China que conta hoje com 100 mil congregações com cada congregação formada por uma média de 50 pessoas. Logo, o número total de membros dessa igreja chinesa é de pelo menos 5 milhões. "Além disso, essa igreja na China está preocupada com missões e já enviou mais de 100 missionários ao exterior", afirma Xiao.

Em suas viagens pelo mundo, o economista tem dito, segundo depoimento dado ao jornal Gospel Herald, que embora o evangelismo seja proibido pelo governo chinês, "a China está passando por uma mudança transformadora e, em algumas áreas do país, as igrejas estão experimentando um grande avivamento, com o número de crentes ultrapassando a metade da população local". Estima-se que a soma dos crentes das igrejas cristãs oficiais (permitidas pelo governo chinês, mas sem autorização para evangelizar ou abrir novos templos) com os das igrejas clandestinas representa hoje quase 10% da população do país.

Ainda não há números que apontem a quantidade exata de cristãos no país, mas, em 2011, o governo chinês afirmou que o número de cristãos das igrejas oficiais chineses era de 25 milhões, sendo 19 milhões de protestantes e 6 milhões de católicos. Na época, fontes não-oficiais estimavam em cerca de 100 milhões o número de cristãos no país, entre cristãos das igrejas oficiais e cristãos das igrejas clandestinas. Hoje, porém, três anos depois, estima-se em mais de 100 milhões o número de seguidores de Cristo na China, número bem maior do que o dobro do número de evangélicos no Brasil. Em setembro de 2011, uma matéria da BBC afirmava que era "visível o aumento do número de cristãos na China", uma vez que, "aos domingos, as igrejas evangélicas ficam cheias e muitos já consideram que neste dia da semana há mais fiéis nas igrejas chinesas do que nas espalhadas pela Europa". A Europa, berço das missões cristãs, caiu espiritualmente, mas a China, apesar da perseguição, está encontrando a fé em Cristo.

Em depoimento ao Gospe! Herald, Xiao aponta um problema: "Embora o crescimento contínuo dos cristãos na China seja óbvio, os crentes chineses têm pouco preparo doutrinário". Neste aspecto, Xiao espera que "a igreja na China possa aprender mais com as igrejas cristãs na Coreia do Sul", país vizinho.

Xiao disse que ficou surpreso ao visitar algumas das famosas igrejas da Coreia do Sul, onde ficou "profundamente comovido" ao ver "suas orações apaixonadas e a dedicação às missões". Muitas dessas igrejas abrem suas portas às 4h ou 5h da manhã para encontros de oração. Ele disse que chegou em algumas delas às 5h para participar da reunião de oração e, para sua surpresa, a igreja já estava lotada de pessoas.

Desde 2012, Zhao Xiao tem informado que a igreja chinesa já trabalha com um projeto de crescimento. Segundo ele, a meta é chegar a pelo menos 30% da população até 2030. Xiao batizou o projeto de "30-30". Ele explica: "A chave se encontra no surgimento de missionários no local de trabalho. Há dois caminhos usados para alcançar o '30-30': um é através dos esforços missionários tradicionais da igreja e o outro é usar também os missionários no local de trabalho".

Xiao fala também da ideia de "empresas do Reino". Ele afirma que "as empresas do Reino são diferentes de empresas comerciais comuns. Embora ambas procurem fazer lucro, as empresas do Reino não buscam em primeiro lugar fuzer lucro. Elas fazem lucro através da oferta de melhores produtos e serviços, mas sua preocupação principal é ganhar vidas para Cristo".

"O mais importante para as empresas do Reino", diz Xiao, "é edificar sobre o fundamento de Jesus Cristo, a Rocha sólida, e não basear-se em qualquer filosofia de gestão secular. O maior objetivo das empresas do Reino é expandir o Reino de Deus, trazendo as pessoas para Jesus, influenciando outros povos com a vida e o testemunho de seus funcionários", afirma.  

Xiao destaca que "já existem muitos exemplos bem sucedidos de empresas do Reino na China. Há um casal cristão no nordeste da China que possui uma empresa de refrigerantes. Esse casal de empresários fez de seu restaurante um altar que glorifica a Deus. Os trabalhadores cristãos cantam louvores a Deus durante o trabalho. Muitos clientes, depois de ouvir os funcionários cantar, tornam-se cristãos. Os funcionários também oram pelos clientes. Muitos sentem-se comovidos e tornam-se cristãos", conta Xiao, que menciona ainda outro exemplo: "Um empresário cristão na China comprou uma montanha, transformou-a em um centro de oração 24 horas e realizou ali um evento evangelístico para 10 mil pessoas. Ele também forneceu dinheiro para estabelecer um seminário, apoiando mais de 300 obreiros em busca de estudo e treinamento". Xiao projeta um "efeito bola de neve" de "100 mil empreendedores do Reino para estabelecer grupos empresariais cristãos" e crê que, "até 2030, traremos pelo menos 100 milhões de chineses a Cristo". O comunismo na China pode estar com os dias contados. Oremos pela Igreja na China.