23 de setembro de 2011

PROJETO COLÔMBIA

A meta é pregar a palavra, salvar almas, discipulá-las e prepará-las para o anúncio do evangelho.

Cleuseni Lopes, que por algum tempo atuou na Venezuela, e Keyla Cordeiro, aceitaram o desafio e foram em busca de almas em terras colombianas.

Através destas duas moças que corajosamente se disponibilizaram para a abertura do trabalho no país das guerrilhas, drogas e tráfico de armamentos, os Gideões Missionários da Última Hora, mediante suas vidas, adentram um território perigoso, onde o evangelho, em sua Constituição Federal, não é reprimido, mas em algumas localidades quem ditam as normas são os grupos guerrilheiros que, sem nenhum respeito à integridade física de pastores e missionários, espancam, ameaçam e até mesmo matam os que anunciam Cristo.

Após sete meses na Colômbia, precisamente na cidade de Maicao, estado de Guajira, vivendo debaixo de constantes ameaças, tensões, conflitos internos, insegurança física e pressões psicológicas por não terem o visto religioso de permanência no país, nossas missionárias foram convocadas para uma entrevista com o cônsul do país, para coleta de informações do real motivo de ali estarem.

Mesmo sendo as indagações e respostas relacionadas ao evangelho, por alguns minutos tiveram a oportunidade de ministrarem a Palavra àquele homem, que, por sua vez, em seu aspecto físico, não se convenceu com as palavras do evangelho por elas anunciadas. Contudo, liberou a estada de nossas missionárias para o desenvolvido de suas atividades espirituais.

A missão transcultural é um desafio para todos que desconhecem as realidades culturais de algumas localidades. O despreparo e o medo não são empecilhos que detêm as ações de homens e mulheres que têm por objetivo a pregação do evangelho.

Cleuseni conta-nos que a cultura é um grande desafio na adaptação não somente de missionários, mas de estudantes que procuram o país para seus aprimoramentos culturais. Os Gideões, neste novo projeto, permanecem enviando-lhes a prebenda mensal.

Quando chegaram à Colômbia, uma das dificuldades que encontraram neste período de adaptação foi o entendimento dos dialetos que costumeiramente são usados na comunicação de alguns nativos. O espanhol, como língua oficial colombiana, não é totalmente adotado pelas populações de comunidades distanciadas dos grandes centros urbanos.

A Missionária Cleuseni conta que o inconformismo com a indiferença de muitos com a situação de várias partes do mundo, o acomodamento de grandes igrejas, fazem com que a preocupação e o senso de responsabilidade aumentem sobre elas.

Não podemos ser indiferentes frente ao quadro que vemos todos os dias. Enquanto nos enclausuramos dentro de nossas igrejas, usufruindo de nossos confortos e comodidades, há milhares que caminham a passos agigantados para uma eternidade sem Deus, sem poder desfrutar das bênçãos conquistadas por Cristo através dos méritos da cruz.

Quando chegaram à Colômbia, Cleuseni e Keila levaram consigo algumas roupas, panelas e um violão. Através da música, crianças começaram a ser atraídas para os cultos em ar livre, pois as batidas de seus dedos nas cordas ressoavam canções cristãs que tocavam os coraçõezinhos dos pequenos colombianos.

“Os indígenas eram resistentes à amizade, pois tinham medo de ser discriminados; foi um começo muito árduo, passamos por todas as dificuldades que são comuns de uma missão transcultural: o medo do desconhecido, grupos armados, a resistência das pessoas ao tentarmos aproximar, o idioma, as tradições exóticas, tudo nos deu muito trabalho e requereu dedicação”, conta missionária Cleuseni.

Em meio a estas dificuldades, o foco não foi perdido, pois a convicção de que Deus cumpriria as promessas que havia estabelecido a elas na Venezuela, de que faria uma obra transcendental através de suas vidas, era constante, e com o passar do tempo todas estas dificuldades foram se dissolvendo.

No bairro Ovidio Mejias, realizaram os primeiros cultos com as crianças e depois com adultos em um campinho de futebol. Com pouco tempo conquistaram algumas pessoas para Cristo, dentre elas índios guayus e alijunas.

Tradições

O povo guayu tem muitas tradições! Quando uma pessoa guayu morre, o velório dura até uma semana, e faz parte da tradição fazer muita comida e convidar parentes e amigos. Depois de seis meses eles se reúnem no cemitério, fazem banquetes e choram pelo morto.

Se sonharem com a pessoa que havia falecido, também se reúnem. Passados até mesmo dez anos eles vão novamente ao cemitério e fazem grandes banquetes, num ritual que pode durar mais de uma semana.

Matam bois, cabritos, fazem ticha (bebida fermentada do milho, inclusive com fezes humanas), e tomam cachaça.

Pela madrugada todos vão ao túmulo e tiram o cadáver para fora e o parente mais próximo tem a incumbência de tirar todos os ossos e colocá-los dentro de uma urna pequena. Depois levam esta urna para outro cemitério, que fica no alto Guajira, em frente ao mar do Caribe, onde estão os ancestrais, porque, segundo suas tradições, enquanto os ossos não estiverem junto dos ancestrais, eles não descansam em paz.

Um senhor chamado Julio era alcoólatra e foi abandonado pela família, tornando-se um andarilho. Teve cirrose hepática e os médicos disseram que ele não tinha muito tempo de vida. Então, um de seus sobrinhos lhe disse: “como o senhor não tem muito tempo de vida, eu já fiz a sua urna e a enramada (espécie de galpão) para fazermos a comida”.

Alguém lhe falou de Jesus e ele se converteu, sendo curado milagrosamente. Nossas missionárias pregaram em um velório a convite deste senhor, e muitos tiveram a oportunidade de ouvir o evangelho.

Um pastor assessora nossas missionárias com as documentações, e emprestou-lhes um galpão no bairro Guayumana para a realização de cultos. Quando chegaram àquele lugar a maioria das pessoas não falava o espanhol, mas a expectativa era de que ali seria um lugar produtivo. Todas as vezes que pregavam, perguntavam se estavam entendendo, e a resposta era sempre não. Durante alguns meses, ao voltarem para casa, procuravam meios de como evangelizá-los; então pediam a Deus uma estratégia para pregarem de forma mais inteligível.

Ao passar dos dias descobriram a Bíblia em Guayunaiki, mas a maioria era analfabeta. Depois encontraram a Bíblia em áudio, o que tornou o evangelismo mais proveitoso. Cleuseni, em seu relatório missionário, conta que um dia, enquanto Keila pregava, todos começaram a conversar e não conseguiam silenciá-los. Por curiosidade perguntavam o que é que eles tanto falavam, e pedíamos para lhes falarem em espanhol, mas eles prosseguiam em conversar.

Então, um dos meninos disse-lhes: “vocês falam, mas os nossos pais não entendem, por isso estamos interpretando o que vocês estão falando. A partir daquele momento, passaram a usá-los como intérpretes nos cultos.

Na Colômbia muitas tradições às vezes se chocam com a palavra de Deus, por isso muitos obreiros não têm paciência para trabalhar com eles, pois é necessária muita persistência e paciência para ver os frutos. Para o homem se casar com uma guajira tem que comprá-la, e se ele a possuir antes de se casar deve pagar de igual forma porque já a usou. O preço é avaliado em colares de ouro, gado, cavalos, cabritos ou valor monetário.

Quando as famílias entram em litígio há derramamento de sangue. O sangue é cobrado e dependendo da agressão verbal, física ou envolvimento amoroso o valor varia de preço. Se a agressão for de grande magnitude, não há acordo; é aí que eles começam a matarem-se.

Na Colômbia confrontamos com todos estes abusos e exageros cometidos, mas não é fácil mudar uma cultura milenar em dois anos. As coisas boas se conservam, mas o que é maléfico tem que ser confrontadas à luz da palavra de Deus.

Guerra Espiritual - Relato Missionário

Havia uma senhora por nome Beatriz que, durante um ano, a convidamos para os cultos, mas nunca aceitou o convite. Porém, um dia ela chegou à igreja e nos pediu para orar pelo seu sobrinho que estava atormentado por um espírito maligno. Neste dia não fomos, mas outra vez nos procurou e fomos em direção à rancheria, uma região afastada da cidade de Maicao.

Glades, sua sobrinha, morava na rancheria e alguém estava fazendo feitiçaria para destruir sua família. Seu esposo ficou possuído por demônios, rastejava pelo chão como serpente e o inimigo dizia em sua boca que iria destruir todos os seus familiares.

Não demorou muito tempo e o homem faleceu. Depois que ele morreu o diabo se manifestou no corpo da sogra, com os mesmos sintomas. Passaram nove dias e o inimigo fez mais uma vítima. Depois que a velaram, Satanás se manifestou no corpo de sua irmã e dizia: “enquanto eu não levar toda a família, não vou descansar”. Depois de nove dias ela morreu, deixando três filhos. Glades, desesperada, fugiu com seus quatro filhos e dois sobrinhos que ficaram órfãos.

Por desígnio divino foram morar perto do local onde trabalhamos. Nosso adversário não tem fronteiras, seu plano era destruir toda a família. Fomos a sua casa levar leite e biscoitos para as crianças; são pessoas de poucos recursos financeiros.

Oramos por eles e enquanto nos despedíamos para sair, Satanás se manifestou no corpo da criança de um ano de idade e todos entraram em desespero. A criança ficou como se estivesse com insuficiência cardíaca, não respirava, se retorcia no corpo da mãe. Então, a Missionária Keila pegou a criança no colo e começamos a repreender aquele espírito maligno, declarando que aquela criança era propriedade de Deus e que o adversário não iria fazer mais vítimas ali.

Depois de uma longa batalha espiritual, conseguimos expulsá-lo. O resultado foi que Beatriz aceitou a Jesus com seus três filhos e Glades também, com todos os seus filhinhos.

Se Jesus não chegasse primeiro àquele lugar, o inimigo teria feito muitas atrocidades. Isso porque atendemos o “ide” do Senhor.

O trabalho evangelístico na Colômbia permanecerá tendo o apoio dos Gideões Missionários da Última Hora, e você, querido leitor, será testemunha das grandes obras realizadas nesse país de cultura por nós desconhecida, mas que será transformada pelo pleno conhecimento do evangelho.

Nestas poucas linhas de Vida Missionária, parte das experiências vividas por estas missionárias nos motivam ainda mais no investimento em missões transculturais. A veracidade e a responsabilidade de nossas missionárias nos estimulam em continuar investindo no preparatório e envio de missionários a terras brasileiras e estrangeiras.

Revista Vida Missionária, edição 58, páginas 16 a 22.

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