31 de agosto de 2010

RAUL E DEUS

Por Braulia Ribeiro em 9 de dezembro de 2009

Uma história real de como nasce um missionário africano.

O chão da kimbo é de areia, suja, misturada com lixo das casas e mato. Raul olhava para o chão, porque não era muito polido ficar encarando os mais velhos. Os brasileiros não sabiam disto, então ficavam olhando nos olhos dos outros, esperando sempre uma resposta. Raul não estava ansioso. Sabia como é demorado o processo de decisões numa kimbo, o cuidado que os velhos tomam com cada idéia.

Para Raul era um grande passo estar ali. Sempre se imaginou falando de Deus para outros de sua terra, mas não sabia bem como seria. Agora ali, na kimbo, para sua surpresa descobriu que era fácil. Pensava que ia precisar de entender das difíceis teologias dos brancos, dos termos complicados e “palavrões” religiosos, usados o tempo todo nos cultos que freqüentava desde criança. Ali, em pé, esperando pelos velhos se sentiu de repente adequado. Sabia que teologia não importava naquele momento. Sabia que os palavrões não iam calar no coração dos velhos da kimbo.

A resposta veio. Podiam pousar e contar suas histórias ao povo da kimbo. Sentaram-se, a noite caindo atrás do morro, o fogo foi aceso no meio e as histórias foram fluindo. Primeiro as do povo que eram muitas. Os visitantes deviam ouvir calados e com atenção. Depois podiam contar eles também a que vieram. Raul ouviu e ouviu, e entendeu um pouco da dor do coração daqueles velhos, com um mundo sempre em guerra à sua volta, a comida escassa, os jovens perdendo o gosto pela vida tradicional da kimbo.

Raul era de um outro povo tribal mas sabia da realidade destes conflitos. Os brasileiros também se aplicaram em ouvir e orar pela kimbo. No final as histórias de Jesus saíram dos lábios de todos, simples como a vida ali, com porcos, crianças, as gentes. Raul pensou em Jesus como um homem como ele ou aqueles ali que ouviam. Uma emoção quente como um café veio de dentro dele quando ele falava do amor e do carinho de Jesus por todos.

Naquela noite ele dormiu sabendo que era um missionário. Sua noiva brasileira, e enfermeira da equipe de JOCUM, ia se sentir orgulhosa dele. Pensou nela e pensou na mãe também. Nos anos em que dizia a ela, "mãe, quero ser um pastor”, e a mãe só abanava a cabeça pensando no sonho impossível do filho.

As igrejas que freqüentava eram sempre dirigidas por brancos. Era bom, apesar de que às vezes era muito difícil entender os cultos. O povo sempre tinha que estar muito quieto, as crianças imóveis nos bancos, engomadas como seus vestidos. O português falado na igreja era como o da escola, mas bem diferente da língua Umbundo, a língua de casa. Para Raul umbundo tinha cheiro de gente, de carne assada na brasa, de milho cozido, enquanto português cheirava como as flores das igrejas, dos enterros, ou das latrinas da escola.

Mas parecia para Raul desde pequeno que Deus falava português, então ele se propôs a falar também. E como todos em sua geração ele aprendeu bem, desde muito novo, e se sentia seguro tanto numa língua quanto noutra. Pra sua surpresa, quando conheceu a noiva ela já falava um pouco de umbundo. Tropeçava aqui e ali, dizia coisas engraçadas, mas Raul admirava seu esforço de falar a língua de gente. Foi uma das coisas que o fez amá-la, a esta mulher de outras terras, nem preta nem branca, que falava rápido e cantado como as novelas da TV.

Enquanto crescia e acalentava seu sonho missionário, Raul sempre viu seu país em guerra. Aprendeu a ser grato a Deus, quando por alguns dias o ribombar do fogo nas linhas de guerra parava, ou quando a comida chegava para todos na cidade, ou quando passava dias sem ver ninguém ferido pela rua.

“A gente aprende a viver em guerra…” - Sempre ouviu isto de todo mundo e viu que era verdade. Em nenhum de seus vinte e cinco anos de vida experimentou paz. A guerra na Angola durou trinta e oito anos. A família se apega entre si, o amor tem sempre um gosto de desespero, a comida desce para um estômago ansioso que não sabe quando será a próxima vez que vai comer. Os mortos são tantos que se para de contar.

Afora isto cresceu normal, foi na escola em dias calmos, e sempre na igreja aos domingos. Universidade no país é difícil. Seminário, então, não existia de jeito nenhum. Quando terminou alguns anos de estudo, tinha esgotado as opções. Agora era trabalhar, formar uma família e sobreviver pela guerra afora como fizera seu pai.

Até que chegaram os brasileiros. Eram poucos no início, mas logo pareceram ser muitos pelo tanto que se mexiam pela cidade toda. Formaram muitos novos discípulos, ajudaram programas da ONU, visitaram vilas distantes à pé, participavam de igrejas, sempre muito alegres e vivos. Depois de alguns meses anunciaram seu desejo de treinar missionários. O coração de Raul bateu mais forte ao ouvir isto. Afinal Deus lhe tinha respondido! O curso ia ser em outra cidade.

“Não importa o lugar", Raul pensou. “Orei para que viesse gente assim ao meu país que acreditasse que eu também podia ser missionário. Não perco de jeito nenhum…”

Raul foi com o apoio da família e gostou muito. Lá conheceu outros angolanos como ele e alguns brasileiros missionários. Sirlene, a noiva, estava entre eles. A princípio se assustou um pouco com o jeito deles, uma exuberância religiosa que lhe pareceu exagerada, acostumado que estava a igrejas quietas e ordenadas. Depois entendeu que eram gente bem verdadeira, e que tinha uma consciência do amor de Deus por eles, bem maior que a sua. “Por que será", indagava-se".

Observava de longe quando os brasileiros se reuniam para cantar samba, se requebrando, e se horrorizava quando eles em uma hipnose nostálgica se debruçavam em frente da TV para ver novelas com linguagem pesada e cenas amorosas tórridas.

Além disto aprendia muito nas aulas. Sentia por um lado que aquela era uma outra religião, diferente da que havia sido criado pra entender. Era a mesma bíblia, devia ser a mesma teologia, mas havia algo diferente, pulsante, informal, comum e ao mesmo tempo incomum, naqueles ensinos. Sirlene ensinava muito, sempre rindo à toa. Marcos, o líder da equipe era mais sério, mas falava com uma ternura suave, que ouví-lo se tornava tão repousante quanto dormir.

No fim Raul ainda não se sentia pronto, mas não disse nada a ninguém. O amor entre ele e Sirlene tinha crescido, estavam orando e esperando a direção de Deus sobre seu futuro. Ele tinha que ir para o “prático”, como diziam os brasileiros, fazendo tudo soar muito simples. Mas Raul tinha uma sensação de pavor, quando pensava que finalmente a sua vez tinha chegado.

Foi ali na kimbo que tudo se esclareceu. A religião sempre tinha sido complicada pra ele, porque era uma coisa para os brancos. Deus falava português e precisava de flores caras, e ambiente silencioso para falar. Ou então, Deus era um brasileiro desbocado e irreverente, bem distante da polidez consciente que cerca as relações sociais dos angolanos.

Ali na kimbo, sendo missionário sem o ser na verdade, foi que entendeu pela primeira vez: “Deus pode ser meu.” Deus fala umbundo e mukuando, a língua da kimbo, fala português com os portugueses e brasileiro para os brasileiros. Deus pode ter cheiro de carne e mandioca cozida, pode se sentar no chão lixento da kimbo, pode agüentar a barra da linha de fogo, só pra estar próximo de alguém.

Em meio a sonhos com a noiva, a mãe, Raul foi tocado por Deus naquele chão da kimbo. A mão dele lhe pareceu suave e negra, sua voz lhe falou em língua que se fala às criançinhas e seu cheiro era como o cheiro do regaço da sua mãe.

“Deus é meu", entendeu Raul, e dormiu.

http://www.jocum.org.br/artigos/raul-e-deus

Publicado originalmente em www.eclesia.com.br

27 de agosto de 2010

PODES SER UM EMISSÁRIO DE CRISTO?

Através de vinte séculos tem ecoado por quase todos os recantos do mundo a voz de pregadores que, no desejo de cumprir a ordem do Salvador Jesus, desempenham sua missão, enfrentando austeras lutas, na ansiedade de verem libertadas do pecado as pobres almas que estão presas no poder das trevas.

Notamos, entretanto, que muitos cristãos ainda continuam de braços cruzados, ociosos. Uma vez salvos esqueceram-se de que alguém um dia lhes falou do amor de Deus.

Cometeríamos um grande erro, se depois de salvos de um naufrágio por alguém, abandonássemos outro em idênticas circunstâncias.

Cada cristão salvo por Cristo deve tornar-se um mensageiro autêntico. Uma igreja em que cada membro é um emissário é abençoada e forte. E se os membros de todas as igrejas no mundo se tornassem mensageiros do Evangelho, teríamos, sem nenhuma sombra de dúvida, um mundo melhor, ou, por outro lado, apressaríamos a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.

Tomando por base as palavras de Jesus, vamos supor que ainda não realizamos nem um quinto daquilo que devemos fazer. É frequente se ouvir que alguém está sofrendo uma enfermidade, uma dificuldade ou uma provação. Entretanto, muito raro é se ouvir dizer: "Hoje testifiquei de Cristo para alguém e essa pessoa aceitou-o, decidiu-se". Será a ganância e os cuidados desta vida, que tomaram vulto no coração de muitos cristãos? Já que estamos diante de uma batalha vitoriosa, não deixemos que o adversário fira os princípios de nossa fé. Devemos ser emissários de Cristo. Será que ainda não fizemos sequer uma só vez uso da arma que nos foi confiada pelo nosso capitão, JESUS?

Urge que sejamos mensageiros valorosos, autênticos e destemidos. O soldado que tomba sem lutar enfraquece o companheiro ao lado, mas o soldado que tomba lutando deixa com honra as armas para outro. Lembrai-vos, irmãos, que as armas a nós confiadas foram antes usadas por Jesus, entregues aos apóstolos e confiadas a nós. Outros há que nos espreitam com o objetivo de assumir a posição que ora ocupamos, não deixemos que a liderança a nós confiada passe a outro antes de cumprirmos o dever de bons soldados.

Que sejamos contados com os trezentos de Gideão, com os valentes de Davi e ainda com os valorosos apóstolos de Cristo. Sejamos, pois, emissários dAquele que tudo fez em nosso benefício, legando-nos o direito de herdeiros de Deus.

Raimundo R. da Silva (Iguatu, CE)

(A Seara, Nº 102 – Setembro de 1972)

24 de agosto de 2010

CONSEGUI CORTAR A CERCA E FUGIR

Meu nome é Moses, sou nigeriano. Nasci numa família muçulmana muito rigorosa. Eu acreditava seriamente na unicidade de Alá e que ele era o criador de tudo que existe na terra. Eu rejeitava qualquer ensinamento contrário aos do Islã. Porém, eu tinha um amigo chamado Mark. Ele era meu parceiro nos estudos. Um dia ele se aproximou de mim e disse que deveríamos ser amigos. Eu sabia que ele era cristão, mas mesmo assim resolvi começar uma amizade. Ele ia ao meu dormitório e deixava folhetos cristãos, mas eu nunca lia.

Isso aconteceu diversas vezes até que o chamei e disse: "Mark, se você quiser que a nossa amizade continue, por favor, pare com isso. Não quero que você jogue mais nada debaixo da minha porta. Se fizer isso de novo, nossa amizade vai acabar."

Um dia, quando fui até o dormitório de Mark, havia um quadro de um homem com as mãos juntas em oração que eu supus ser Jesus. Eu me aproximei mais do quadro, olhei pra ele e disse sarcasticamente, "Os cristãos te adoram, Jesus. Mas, para sua informação, você é somente um profeta de Alá, apenas um humano como eu. Vamos fazer um trato agora. Se você é verdadeiramente o filho de Deus, então mostre isso pra mim. Prove que você é filho de Deus e digno de adoração."

Quatro dias depois eu tive uma visão. Não foi um sonho porque eu estava acordado me preparando para as provas e lendo algumas anotações. Depois de algum tempo, eu fechei meu livro e meus olhos tentando meditar no que havia lido. De repente, fui transportado para outro lugar, como um deserto. Eu estava assustado e com medo. Depois disso houve escuridão. Eu pensava "o que está acontecendo aqui? Estou em apuros?". A escuridão me envolveu e o medo apertou o meu coração.

Então eu vi uma luz em forma de estrela vindo do norte. Quanto mais perto ela chegava, mais brilhante ficava, até que não pude mais suportar a claridade porque estava cegando meus olhos. Eu tive que ficar com a cabeça baixa. Então, a luz começou a perder a intensidade e tentei ver o que estava acontecendo. Eu vi uma nuvem a aproximadamente dez metros de mim. No topo dela havia um trono brilhante. Nesse trono havia um homem com roupa branca. Ele estava sorrindo pra mim e, depois de um tempo, acenou se despedindo. Eu comecei a ouvir uma música angelical que tinha a seguinte mensagem: "Santo, Santo, Santo, Jesus, o filho de Deus, Santo, Santo, Santo". Conforme o som ia sumindo, toda a cena ia embora do mesmo jeito que veio.

Então, abri meus olhos e me perguntei se aquilo era resultado do desafio que fiz para aquele quadro na casa de Mark, mas eu não quis levar a sério. Daquele dia em diante não tive mais paz. Eu comecei a procurar algo nas Escrituras. Um amigo me deu um Novo testamento e disse para eu ler o livro de João. Um verso em particular saltou em meus olhos - Jo 8.52, "Antes de Abraão ser, eu sou". Isso era muito sério: Jesus era antes de Abraão? Ele nasceu antes? Comecei a questionar os cristãos. Eu estava convencido de que Jesus era o Caminho.

Quando tive meu encontro com Cristo, minha família logo soube. Fui trancado num quarto por cinco dias e espancado ao ponto de perder a consciência. Ainda tenho as cicatrizes em minhas costas.

Eu pensei: "Como posso escapar daqui?" Graças a Deus que enviou um cristão que encontrou uma maneira de ir até o lugar onde estava preso. Ele me trazia comida nas madrugadas. Eu não comia nada que meus captores me traziam com medo de ser envenenado. Na quarta noite que esse irmão veio eu perguntei: "Por favor, como posso escapar daqui?". Havia uma cerca de arame atrás da janela. Esse irmão trouxe uma serra pra mim e eu consegui cortar a cerca e fugir.

A dificuldade da obra missionária hoje é tão difícil quanto no passado.

(Missão Portas Abertas)

20 de agosto de 2010

JOVEM COPISTA

Estudante mineira é uma das pessoas mais novas do mundo a copiar à mão a Bíblia completa

Um exemplo de fé, disciplina, determinaçao e perseverança. Tudo isso vindo de uma estudante de apenas 14 anos, moradora de Itajubá (MG). O feito dela foi conquistado por pouquíssimos cristãos. A adolescente Juliana Vilela Pereira é uma das mais jovens pessoas no mundo a copiar sozinha, à mão, a Bíblia completa. Um esforço que levou dez meses para ser concluído: de fevereiro a dezembro de 2009.

A Bíblia manuscrita feita pela garota mineira consumiu 28 canetas esferográficas, 16 blocos de fichário e 3.223 folhas. Para cumprir seu objetivo em menos de um ano, ela transcrevia o texto sagrado seis vezes por semana, numa média de cinco horas e quatro capítulos bíblicos por dia. O intervalo de descanso era de apenas 15 minutos, só para alongar as mãos e os braços. Ao final, os 66 livros das Escrituras foram divididos em seis volumes copiados. "Quando copiei as últimas letras da Bíblia, foi uma satisfação muito grande. Senti uma alegria inexplicável. Será uma recordação para a vida inteira", relata Juliana.

Sua motivação para transcrever as Escrituras na íntegra vem da infância. Aos nove anos, ela teve seu primeiro contato com a Bíblia e, desde então, passou a gostar das historinhas bíblicas infantis. Os livrinhos de Davi e Golias, Sansão e Dalila, Arca de Noé e o Nascimento de Jesus foram os primeiros a serem copiados. Depois, aos 12 anos, Juliana leu o Novo Testamento, o que a inspirou a copiar um livro de 300 páginas sobre o Apocalipse. "Como sempre gostei muito de ler e escrever, copiava a Bíblia como forma de entender mais o texto de Deus", conta.

A família sempre a apoiou na longa jornada, embora às vezes duvidasse da conclusão de seu propósito. "Conforme eu copiava, meus pais incentivavam com palavras de ânimo. Mas muitos parentes duvidavam. Eu sempre acreditei que conseguiria, pois foi Deus que colocou esse desafio no meu coração", emociona-se.

Os cadernos onde Juliana registrou todo o conteúdo bíblico ficarão guardados em sua casa. Mas, pelo fato histórico, a adolescente recebeu homenagens e até diploma de reconhecimento da igreja que frequenta em sua cidade. Um resumo com as etapas de seu árduo trabalho foi até divulgado no YouTube, o site de compartilhamento de vídeos.

Ao mesmo tempo, a estudante virou palestrante bastante requisitada para narrar sua experiência nas escolas locais. Ela busca incentivar mais jovens a ler e copiar a Bíblia. "Deus me abriu portas para falar dele com pessoas que eu nem conhecia. E os alunos ficam admirados quando falo que li e copiei toda a Bíblia."

(A Bíblia no Brasil, 228 - Julho a Setembro de 2010 - Sociedade Bíblica do Brasil)

13 de agosto de 2010

CHAI LING, DA PRAÇA DA PAZ CELESTIAL

Líder revolucionária chinesa durante os prostestos de 1989 se converte ao cristianismo.

Chai Ling, a única mulher líder nos protestos da Praça da Paz Celestial, foi batizada no dia 4 de abril. Ela se tornou cristã em dezembro de 2009. No dia de seu batismo, ela explicou os motivos que a levaram ao cristianismo: sua incapacidade de mudar a China e a dor de ver tanta violência em seu país, não somente no campo de direitos humanos e democracia, mas principalmente pelos abortos provocados pela lei que ordena que se tenha apenas um filho, definida por ela como “um massacre diário, mil vezes pior que o da Praça da Paz Celestial e feito às claras”.

O testemunho foi publicado na íntegra no site da ChinaAid (em inglês), no qual ela fala sobre os diversos encontros e amigos que colaboraram para que ela abraçasse o cristianismo.


Chai Ling nasceu durante a Revolução Cultural, filha de soldados do Exército pela Libertação do Povo, na base nordeste da China.
Durante os protestos na Praça da Paz Celestial em maio-junho de 1989, Chai Ling tinha 23 anos e estudava psicologia na Universidade de Beijing (Beishida). Ela era a única líder mulher, que previu com grande tristeza o triste fim do movimento democrático (“Haverá um banho de sangue”, disse ela em uma entrevista alguns dias antes de 4 de junho).

Juntamente com outros 11 estudantes, ela fez um juramento que derramaria seu sangue pelo país, tendo como modelo os heróis chineses do passado, que cometeram suicídio para despertar o povo.


Depois do massacre, Chai Ling se tornou uma das 21 pessoas mais procuradas pela polícia chinesa. Com a ajuda de um grupo de budistas e organizações de Hong Kong, após um período escondida, ela conseguiu fugir para a França, e depois Estados Unidos.
Morando em Boston, ela se formou em Economia em Harvard, e com seu marido, Robert Maggin Jr., criou uma empresa de software que emprega 300 pessoas.

Ela nunca esqueceu seu juramento e sempre doava parte de sua renda para orfanatos e organizações chinesas.
As ameaças e as dificuldades a fizeram perder a esperança. “Apesar de todas as batalhas e sucessos, compreendi como sou pequena se comparada ao sistema. Como eu, uma simples cidadã, poderia enfrentar um sistema inteiro, com muitos recursos?”.

Em novembro de 2009, em Washington, ela ouviu o testemunho de Wujian, uma chinesa que teve que fazer um aborto porque engravidou sem permissão do escritório responsável pelo controle populacional.
“Aquele momento trouxe de volta todas as memórias de abandono e dor que enfrentamos na noite de 4 de junho de 1989. Aquela noite foi tão brutal, não tivemos força para parar, nem o resto do mundo.” Chai Ling não teve ensino religioso. “Na China, não podemos acreditar em Deus. ‘Deus’ foi classificado pelos líderes como ‘o mal que os capitalistas usam para fazer lavagem cerebral nas pessoas’. ‘Deus’ era uma palavra proibida em nossa sociedade. Como resultado, o amor de Deus também assustava. A sociedade estava repleta de ódio, desconfiança e medo”.

Apoiada por seu marido, um cristão protestante, e alguns amigos que trabalham como voluntários contra o aborto, Chai Ling decidiu aceitar Cristo no dia 4 de dezembro de 2009. No dia 4 de abril, ela foi batizada. A fé na ressurreição de Cristo a deixa mais segura da “vitória em Deus” em meio às tribulações.


Em seu testemunho, Chai Ling demonstra compaixão pelos líderes chineses responsáveis pelo massacre: “O perdão de Deus é tão completo que mesmo um dos criminosos que estava com ele na cruz, quando se arrependeu de seus pecados, recebeu a promessa feita por Cristo de levá-lo ao céu. Se os líderes chineses soubessem que, não importa o que tenham feito, se eles se arrependerem, poderão receber o mesmo amor e perdão que todos nós recebemos. Qual é o presente que eles receberão? Liberdade para eles mesmos e para a China!”.


A conversão de Chai Ling é a mais recente entre as de diferentes líderes da Praça da Paz Celestial. Depois de lutar por ideias de igualdade e democracia, eles descobriram que só há razão em seu comprometimento com os direitos humanos se ele estiver baseado em Cristo. “Quando pensávamos que se iniciava um movimento democrático, gritávamos que todos os seres humanos são iguais. Agora, posso dizer isso com certeza, pois Deus nos criou iguais, segundo sua imagem e semelhança.”


Massacre da Paz Celestial


O Protesto na Praça da Paz Celestial (Tian’anmen) em 1989, mais conhecido como Massacre da Praça da Paz Celestial, ou ainda Massacre de 4 de Junho consistiu em uma série de manifestações lideradas por estudantes na República Popular da China, que ocorreram entre os dias 15 de abril e 4 de junho de 1989.

O protesto recebeu o nome do lugar em que o Exército Popular de Libertação suprimiu a mobilização: a praça Tiananmen, em Pequim, capital do país.

Os manifestantes (em torno de cem mil) eram oriundos de diferentes grupos, desde intelectuais que acreditavam que o governo do Partido Comunista era demasiado repressivo e corrupto, a trabalhadores da cidade, que acreditavam que as reformas econômicas na China haviam sido lentas e que a inflação e o desemprego estavam dificultando suas vidas.

O acontecimento que iniciou os protestos foi o falecimento de Hu Yaobang. A intenção dos protestos consistiam em marchas pacíficas nas ruas de Pequim, porém não foi o que aconteceu.


As estimativas das mortes civis variam: 400 a 800 (segundo o jornal The New York Times), 2 600 (segundo informações da Cruz Vermelha chinesa) e sete mil (segundo os manifestantes). O número de feridos é estimado em torno de sete mil e dez mil, de acordo com a Cruz Vermelha. Diante da violência, o governo empreendeu um grande número de arrestos para suprimir os líderes do movimento, expulsou a imprensa estrangeira e controlou completamente a cobertura dos acontecimentos na imprensa chinesa.

A repressão do protesto pelo governo da República Popular da China foi condenada pela comunidade internacional.


No dia 4 os protestos estudantis se intensificam muito. No dia 5 de junho, um jovem solitário e desarmado invade a Praça da Paz Celestial e anonimamente faz parar uma fileira de tanques de guerra. O fotógrafo Jeff Widener, da Associated Press, registrou o momento e a imagem ganhou os principais jornais do mundo. O rapaz, que ficou conhecido como “o rebelde desconhecido” ou “o homem dos tanques” foi eleito pela revista Time como uma das pessoas mais influentes do século XX. Sua identidade e seu paradeiro são desconhecidos até hoje.


Missão Portas Abertas

10 de agosto de 2010

INDO ATÉ OS CONFINS DA TERRA

No ano passado, visitei Jilava, na Romênia, onde Richard Wurmbrand, fundador da VDM, esteve preso. As condições na prisão eram terríveis, e o Pastor Wurmbrand foi vitima de sofrimentos inenarráveis. Para muitos, a prisão parecia mais o fim do mundo.

Certo dia, os guardas levaram um dos companheiros de cela do Pastor Wurmbrand, que também era cristão, para uma cela de castigo onde muitos já haviam morrido por causa do frio do inverno. Richard também já tinha estado naquela cela. Enquanto seu companheiro de cela era levado, Richard disse a ele: "Quando você voltar, diga-nos o que aprendeu".

Pode ser que nos surpreendamos com isso; seria mais natural dizer algo como: "Vamos orar para que você sobreviva". Mas Richard compreendeu que Deus nunca nos abandona e que todos os cristãos sobrevivem. Nós não temos fim. Fomos criados para exaltar a Cristo e para viver com ele para sempre.

Talvez, quando nos encontrarmos no céu, Jesus não nos pergunte: "Quanto você abdicou, ou sofreu, ou enfrentou por mim?". Talvez ele vá além disso e diga: "Sua vida não acabou. Você estava em minha escola. O que você aprendeu?".

Muitos meses depois de minha visita à Romênia, viajei para a Coreia do Sul e me encontrei com o Sr. Choi, codiretor de nosso escritório no país. Choi me contou sobre uma revelação que ele teve quando foi preso na China por evangelizar norte-coreanos. Num momento de desespero, ele se lembrou de uma oração que fizera quando jovem, ainda no ensino médio: "Oh, Deus, estou disposto a ir até os confins da terra por Ti. Envia-me até o fim do mundo".

Certa manhã, o Sr. Choi despertou e se deu conta de que seu "fim do mundo" não era uma selva remota, nem uma cabana de couro com uma fogueirinha dentro, nos ermos da Mongólia Superior. Ali, sentado no chão da penitenciária, ele percebeu que Deus havia respondido à sua oração. Uma cela de aço e concreto era o seu "confim da terra". Jubiloso com essa nova compreensão, Choi começou a falar de Jesus com os guardas e com os prisioneiros, levando alguns à fé salvadora em Cristo Jesus.

Naquela mesma viagem à Coreia do Sul, encontrei-me com Dra. Rebekka, uma médica da Indonésia, que foi presa por manter uma Escola Dominical para crianças de seu bairro. Muitos leitores escreveram cartas de encorajamento para a Dra. Rebekka. Depois de sua libertação, ela deu prosseguimento ao seu ministério. Enquanto "conversávamos, ela disse - referindo-se ao livro dos Atos - o que Cristiànismo "normal" significa para muitos cristãos indonésios. Com um sorriso irônico no rosto, ela apontou para nós e disse: "Vocês podem pensar que nós somos anormais. Não, nós somos normais. Vocês é que não são".

Já de volta, eu e minha esposa Ofélia fomos a uma igreja pequena em Vinita, Oklahoma, pastoreada por Eddie Wrinkle. O Pastor Eddie começou seu ministério organizando um curso bíblico por correspondência, e já conduz fielmente seu rebanho há 22 anos. Todos os anos, ele vai às Filipinas para ajudar num programa de rádio cristão em uma ilha povoada por extremistas islâmicos. Mas ele sempre volta para ministrar em Vinita. Ele sabe que aquela cidadezinha do Oklahoma onde ele trabalha é o "confim do mundo" que Deus determinou para ele e sua família.

O Pastor Eddie compreende o segredo que o Sr. Choi, Dra. Rebekka e muitos de vocês entendem. Quando conhecemos o Senhor Jesus Cristo, podemos ser conduzidos a lugares de oportunidade e de sacrifício neste mundo que parecem ser o "fim do mundo". Todavia, quando partilhamos o amor de Jesus ali, criamos um começo. A comunhão com Jesus é o começo da vida. Ele é o principio e o fim. Ele nos conhecia antes de nascermos, e através de seu sangue ele nos concede vida eterna.

Não importa qual o nosso nível de escolaridade, quão conhecidos somos ou não, à luz da eternidade temos apenas um breve tempo sobre este mundo para oferecer nossas vidas ao serviço de Cristo. Esta é a oportunidade de assumirmos riscos, andando num mundo perdido e cheio de incertezas, e dizer: "Isto é normal. Tudo bem, Senhor, o que eu posso aprender e o que Tu queres que eu faça sobre isso?"

Dr. Tom White

Revista "A Voz dos Mártires" - março/abril 2010.

foto: http://assembleiadeneves.blogspot.com/2008/10/encontro-jovem.html

6 de agosto de 2010

A BÍBLIA SAGRADA EM TODAS AS LÍNGUAS

Visão 2025 – A Bíblia em todas as línguas
Tradutores da Bíblia esperam ter coberto todas as línguas em 15 anos

Há mais de dois mil anos Jesus nos deu uma tarefa: “Ide por TODO o mundo, pregai o Evangelho a TODA criatura”, Mc 16.15. Apesar da globalização, internet e outras maravilhas advindas dos avanços tecnológicos, estima-se que todos os anos 2.5 milhões de pessoas morrem sem sequer saber da existência da Bíblia ou de Jesus Cristo, conforme citamos na matéria “Precisa-se de Missionários”.

A tarefa de pregar o Evangelho, especialmente em países restritos, é dificultada pela falta de tradução. Segundo a organização Wycliffe International das 6.909 línguas existentes no mundo, ainda há 2.251 que não possuem nenhuma porção das Escrituras e apenas 451 possuem a Bíblia inteira traduzida.

A fim de alcançar os confins da Terra, através da Palavra de Deus, o projeto “Visão 2025” foi criado. Ele tem como meta a tradução da Bíblia para 2.200 línguas até o ano de 2025. A organização pretende conseguir, pelo menos, mais 3 mil lingüistas/tradutores para cooperar com o projeto. Afinal, para que essa meta seja alcançada, todos os anos 130 novas traduções precisam ser iniciadas. Em outros termos, uma nova tradução precisa começar, a cada três dias.

Lendo tudo isso, você pode estar pensando: -“Mas, como isso é possível, se há mais de 400 anos Lutero traduziu o Novo Testamento quase todo em apenas três meses?” (Cf. M. Reu em Luther’s German Bible, p. 145s.). Pois é, pela lógica os avanços intelectuais e tecnológicos deveriam ter encurtado muito esse tempo, certo? Então porque ainda existem tantas línguas sem tradução?

O Coordenador de Viagens e Correspondentes Internacionais da “Missão Portas Abertas”, Homero das Chagas, explica que a maior dificuldade para tornar essas traduções possíveis é o fato de que a maioria das línguas que ainda não possuem nada a respeito da Bíblia são apenas orais. “Isso torna mais árduo o trabalho, pois além de aprender o idioma e criar a grafia da língua, o tradutor precisa alfabetizar o povo em sua própria língua”, ressalta Homero, que também é Mestre em Letras com dissertação sobre “Tradução da Bíblia”.

Ainda segundo Homero, outra grande barreira é que na maioria dos casos não existem cristãos nessas etnias. Portanto, o trabalho tem que ser feito com o apoio dos locais, que nem sempre dão resposta positiva ao pedido de colaboração. Além disso, “o tempo de tradução pode demorar de 10 a 30 anos, dependendo da língua e das condições culturais, geográficas, financeiras e, principalmente, da quantidade de pessoas envolvidas no processo”, afirma.

Além da Wycliffe International , existem algumas outras instituições que têm colaborado com para a realização desse trabalho. A Missão Portas Abertas, por exemplo, trabalha em parceria com algumas organizações para realizar a tradução da Bíblia em países da Ásia Central e também no Vietnã. Outro exemplo é o trabalho de missionários brasileiros que está sendo realizado na Missão ALEM. “Através do CLM – Curso de Linguística e Missiologia – a organização tem capacitado cristãos brasileiros a irem para o campo como missionários-tradutores e ajudarem nessa obra difícil, mas gratificante, que é a tradução da Bíblia”, destaca o coordenador Homero.

O conhecimento da Linguística Aplicada tem avançado e as novas tecnologias auxiliam e agilizam o trabalho das equipes de tradução. Porém, sem a ação do Senhor, a equipe se empenhando e os seus servos espalhados pelo mundo - colaborando e intercedendo -, essa obra só seria realizada em aproximadamente 125 anos. Depende também de cada um de nós que a nossa geração se torne testemunhar do Evangelho chegando aos confins da Terra em 2025.

Por Paula Renata Santos (cpadnews)

3 de agosto de 2010

PRECISA-SE DE MISSIONÁRIOS. A QUEM ENVIAREI?

Igrejas brasileiras estão abarrotadas, no entanto, muitos continentes ainda estão vazios do Evangelho. Por quê?

A Igreja Evangélica no Brasil cresceu mais que o dobro do ritmo da população durante mais de 20 anos, mostra estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Se o crescimento constatado continuar, a população evangélica brasileira chegará a aproximadamente 55 milhões, até o final deste ano. E caso a ascensão permaneça, em 2022 a Igreja Evangélica alcançará 50% da população.

Diante dos números, que também podem ser percebidos nas esquinas com o surgimento de um novo templo a cada dia, ficam algumas questões muito importantes a serem, talvez não respondidas, mas ao menos, refletidas. Uma delas é: Por que, enquanto as igrejas brasileiras estão abarrotadas, muitos continentes ainda estão vazios do Evangelho?

Estima-se que todos os anos 2.5 milhões de pessoas morram sem sequer saber da existência da Palavra de Deus ou de Jesus Cristo. Isso porque ainda têm aproximadamente 2.251 línguas sem um versículo bíblico traduzido. São cerca de 2.200 grupos étnicos que nunca ouviram nada sobre Jesus, 193 milhões de pessoas que não têm acesso algum às Escrituras.

Procura-se missionários

A SEPAL (organização de apoio a pastores e líderes) mostra que há cerca de 80 organizações missionárias no País, mas o número de missionários brasileiros no campo transcultural é de pouco mais de 3 mil pessoas.

Segundo o Pastor Waldemar Carvalho, presidente da Missão Kairós, o povo brasileiro foi evangelizado “errado”. Como se nós, brasileiros, fôssemos os “confins da Terra” e não como se tivéssemos de ir até lá evangelizar, conforme ordenança de Jesus em Atos 1.8.

Somente em um "retângulo" do mapa, na chamada "janela dez por quarenta" (
ilustração), está localizada mais da metade da população do mundo. A China com 1 bilhão e quatrocentos milhões de habitantes, Índia com 1 bilhão, Bangladesh com 145 milhões, sem mencionar os demais países que somam outros bilhões de pessoas a serem evangelizadas. “Neste trecho do mapa foi onde aconteceu a chamada de Abraão, muitos episódios do Antigo Testamento, o local onde Jesus nasceu, treinou seus discípulos e para onde os enviou a evangelizar. Porém, nesta região em que até o século VII o cristianismo predominava, hoje é proibida a pregação do Evangelho. E cadê a Igreja Poderosa?! Precisamos obedecer o ‘ide’”, afirma o pastor Waldemar.

A Igreja Perseguida

Milhões de evangélicos brasileiros que vão à igreja constantemente, pregam em locais públicos, leem suas bíblias no ônibus, pensam que a perseguição, tortura e prisão dos cristãos ficaram apenas no livro de Atos. No entanto, o Coordenador de Viagens e Correspondentes Internacionais da “Missão Portas Abertas”, Homero das Chagas, faz um alerta fundamental. “Apenas 0,04% da Igreja brasileira está engajada na causa dos cristãos perseguidos. Isso significa que dentre os quase 50 milhões de cristãos brasileiros, só 25 mil envolvem-se no suporte, oração, doação e ajuda à Igreja Perseguida”.

Enquanto constroem-se prédios magníficos, eventos "gospel", debates doutrinários, existem centenas de cristãos pagando um preço de sangue, sendo massacrados, muitas vezes, em mais de 50 países do mundo onde há perseguição ao Evangelho. E mais de 2.5 milhões de pessoas morrendo anualmente sem conhecer o Salvador, que nós fomos comissionados a apresentar. Mas como ouvirão, se não houver quem pregue? A pergunta de Paulo em Romanos 10.14 se repete. Porém, a resposta "eis-me aqui", infelizmente, está cada vez mais rara.

Envolva-se

Se o Senhor tocou seu coração através desta matéria, participe, como bom soldado de Cristo, dos sofrimentos dos nos nossos irmãos perseguidos, 2 Timóteo 2.3. Saiba também que você pode, deve, foi chamado e capacitado para alcançar aqueles que nunca sequer ouviram o nome de Jesus. Veja abaixo algumas instituições missionárias no Brasil e envolva-se:

Missão Kairós: www.missaokairos.com.br
Missão Portas Abertas: www.portasabertas.org.br
Missões Mundiais: www.jmm.org.br
Emad: www.emad.org.br
Jocum: www.jocum.org.br
Pés Formosos: www.pesformosos.com

Por Paula Renata Santos
(www.cpadnews.com.br)