1 de outubro de 2009

MENOS PRÁTICA, MENOS ATITUDES, MENOS HISTÓRIA...

Aquela era uma pequena aldeia africana rodeada por uma floresta pouco densa. As palhoças foram construídas com barro. Uma fogueira ao centro iluminava a noite sem luar. Ao redor do fogo, homens e mulheres, cnrolados em coloridos panos, dançavam freneticamente sob o ritmo forte e acelerado de dois tambores. Estes eram tocados por homens negros, enfeitados com cordas e tendo as faces pintadas com um barro branco.

Estavam celebrando o Khwllcm - funeral. Três homens armados com arcos e flechas corriam ao redor do grupo gritando e mirando suas flechas para todos os lados. A música cantada já é conhecida daquele povo há 1.000 anos. Os sons guturais soam roucos e estranhos. Eles se auto-intitulam bisalyiins. Habitam essa região há séculos.

Repentinamente um homem bem mais alto que os demais se levanta do meio do grupo e vai em silêncio até uma árvore que fica à esquerda. Ali toma quatro galinhas, um porco e três cabritos. Então os mata. Recolhe o sangue em pequenas cabaças. Ele as leva até a aldeia, onde começa a proferir certas palavras enquanto molha um pano com o sangue e o passa nos umbrais das portas de cada palhoça. Continua esse ritual até chegar à última palhoça, onde derrama o restante do sangue colhido. Nesse momento há um profundo silêncio e ele, com o semblante abatido, vira-se e começa a cantar sozinho, bem baixo, uma música que diz: "U Nyun ka cha linampaln bika-polechona" (Os espíritos de morte não virão por mais algumas semanas).

O canto prosseguia quando eu o parei no meio do caminho e lhe perguntei:

- Quem lhes ensinou a usar o sangue dessa forma?

- Quando Uwumbor era Deus, principiou ele a dizer, não precisávamos temer os espíritos. Desde que nossos ancestrais vieram para estas terras, tivemos de aprender a usar o sangue nas portas das palhoças, renovando a cada lua, para evitar os Nyunin. Mesmo assim a morte e a opressão continuam a se abater sobre o nosso povo.

Essa aldeia ouviu o evangelho e ali nasceu uma igreja. Entretanto mais de mil povos sobre a face da Terra permanecem sob um manto de total escuridão. Acham-se a espera de um missionário que nunca vai, uma igreja que nunca envia e um povo que nunca ora.

Nos anos 70, a missiologia possuía uma ênfase eclesiológica localizada e pragmática. Avaliava-se na época a identidade da igreja como comunidade responsável por transmitir o evangelho de Cristo por toda a Terra. Essa ênfase eclesiológica com base na poimênica (aconselhamento pastoral) definia a formação da mentalidade evangélica, levando a uma consciência de quem nós somos e para que fomos chamados. Foi um período de fundamentação missiológica, a época dos conceitos, que preparou também a igreja dos países missionários emergentes para a década seguinte.

Nos anos 80, iniciou-se um processo centrado na análise e avaliação do campo missionário. Notamos entao o que tenho chamado de "Efeito PNA" (Povos Não-Alcançados), fazendo com que o assunto "missões" passasse a ter gráficos e estatísticas; quem são os PNAs, onde estão e como alcançá-los. Movimentos como AD 2000, WEC International (AMEM), World Mission e outros dedicavam-se intensamente à tarefa de definir quem eram, onde estavam e qual a chance de alcançar os grupos aos quais o evangelho ainda não chegou. Nasceu a Janela 10/40, entendeu-se a dimensão do desafio islâmico, foi revelada a necessidade de investimento missionário entre o crescente grupo dos "sem-religião". E também compreendeu-se melhor a permanente resistência dos grupos animistas, além do constante perigo do sincretismo religioso. Era a década da definição da largura, extensão e profundidade do restante não-alcançado da nossa geração e do que ainda precisava ser feito.

Nos anos 90, ficaram evidentes as limitações missionárias, os problemas freqüentes de contextualização e de comunicação transcultural, além do reduzido número de igrejas autóctones entre os grupos recém-alcançados. Diante disso, fomos levados a crer que a formação missiológica era insuficiente perante o sonho de plantio de igrejas no restante intocado do planeta. Toda a ênfase voltou-se para a pessoa do missionário. Nasceu assim a preocupação pastoral do campo ao lado do impulso para uma melhor formação missionária.

No início deste milênio, entretanto, percebemos que na obra missionária brasileira há mais credo do que prática. Há mais pregações do que atitudes. São mais escritos do que história.

Missionário Ronaldo Lidório (Missões, o Desafio Continua, Ed. Betânia).


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UMA PEQUENA HISTÓRIA DE IMPACTO:
Postagem do PÁGINAS MISSIONÁRIAS
no VEREDAS MISSIONÁRIAS.

Interagindo com consciência missionária!

www.veredasmissionarias.blogspot.com

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